O que é economia solidária e como a tecnologia pode incentivá-la?

Escrito em 24 de Dezembro de 2020 por Renato Ribeiro

Atualizado em 24 de Agosto de 2023

A economia solidária contribui significativamente para as atividades políticas e econômicas do nosso país. Por ser a solução encontrada pelas comunidades carentes para o seu desenvolvimento e bem-estar, esse tipo de economia acaba movimentando mais de R$12 bilhões por ano no Brasil, segundo a Agenda Institucional do Cooperativismo. 

É desenvolvida, principalmente, em comunidades que estão à margem da sociedade e não têm oportunidades dentro do mercado neoliberal. Assim, ao trabalharem com base nos conceitos da economia solidária, buscam soluções para a desigualdade e uma nova fonte de renda. 

Essas soluções são possíveis porque a economia solidária é pautada pelas seguintes características: autogestão, solidariedade, cooperação, respeito ao meio ambiente, comércio justo e consumo consciente.

E não para por aí! A economia solidária tem se desenvolvido tanto, que já está começando a se digitalizar, o que com certeza a fará crescer ainda mais e se expandir para todas as regiões do Brasil.

Devido toda essa importância, neste artigo, refletiremos sobre o tema a partir das respostas para as seguintes perguntas:

  • o que é economia solidária?
  • quando surge a economia solidária?
  • qual é o objetivo da economia solidária?
  • quais são as principais características da economia solidária?
  • qual é a relação entre economia solidária e tecnologia?

Principalmente nesses tempos de crise que passamos nos últimos anos, a economia solidária tem sido cada vez mais demandada e conectada às soluções tecnológicas

Essa relação entre economia e tecnologia já não nos é estranha, não é mesmo? Mas como ela se desenvolve na economia solidária? Para ter essa resposta, continue a leitura do artigo!

O que é economia solidária?

A economia solidária é baseada em um processo de democratização econômica e social. É aplicada por iniciativas que trabalham no modelo de autogestão, ou seja, iniciativas administradas por seus próprios integrantes e não pelo governo ou iniciativa privada.

É uma solução muito comum nas comunidades emergentes, que desenvolvem a economia solidária para melhorar a sua qualidade de vida e o seu bem-estar, conseguindo uma fonte de renda que seja compartilhada na comunidade. 

Dessa forma, ela incentiva uma mudança de cultura baseada na igualdade, com a valorização do ser humano e não do capital, sem visar o lucro a todo custo.

A economia solidária está diretamente relacionada ao cooperativismo e funciona com base na coletividade de produção, distribuição, gestão e comercialização, o que a torna uma das relações de trabalho convencionais.

O Conselho Nacional de Economia Solidária - CNES

A partir do Decreto Nº 5.811, de 21 de junho de 2006, o Conselho Nacional de Economia Solidária - CNES, criado e estruturado pelo Governo Federal, é descrito da seguinte maneira:

Dispõe sobre a composição, estruturação, competência e funcionamento do Conselho Nacional de Economia Solidária - CNES.

Art. 1o  O Conselho Nacional de Economia Solidária - CNES, criado pelo inciso XIII do art. 30 da Lei no 10.683, de 28 de maio de 2003, é órgão colegiado integrante da estrutura do Ministério do Trabalho e Emprego, de natureza consultiva e propositiva, que tem por finalidade realizar a interlocução e buscar consensos em torno de políticas e ações de fortalecimento da economia solidária.

Art. 2o  Ao CNES compete:

I - estimular a participação da sociedade civil e do Governo no âmbito da política de economia solidária;

II - propor diretrizes e prioridades para a política de economia solidária;

III - propor medidas para o aperfeiçoamento da legislação, com vistas ao fortalecimento da economia solidária;

IV - avaliar o cumprimento dos programas da Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego e sugerir medidas para aperfeiçoar o seu desempenho;

V - examinar propostas de políticas públicas que lhe forem submetidas pela Secretaria Nacional de Economia Solidária;

VI - coordenar as atividades relacionadas com a economia solidária desenvolvidas pelas entidades nele representadas com as da Secretaria Nacional de Economia Solidária;

VII - estimular a formação de novas parcerias entre as entidades nele representadas e a Secretaria Nacional de Economia Solidária;

VIII - colaborar com os demais conselhos envolvidos com as políticas públicas de desenvolvimento, combate ao desemprego e à pobreza; e

IX - aprovar o seu regimento interno.

Ter a economia solidária descrita em lei, além de reconhecer a sua relevância no Brasil, também auxilia as entidades e os órgãos competentes a estabelecerem e praticarem suas atividades. 

Por isso, os artigos seguintes do decreto descrevem quais órgãos oficiais compõem e estruturam o CNES, sendo os principais: instituições públicas, religiosas e de ensino, além, é claro, das cooperativas, associações e fóruns. 

A seguir, conheceremos o principal fórum de economia solidária do país, quais são seus integrantes e suas funções.

O Fórum Brasileiro de Economia Solidária

O Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) foi constituído a partir do movimento da economia solidária no Brasil. Tem como objetivo articular e dialogar com os mais diversos integrantes dos movimentos sociais focados na construção de um país menos desigual e mais justo social e economicamente.

O FBES conta com: 

  • 160 fóruns municipais, microrregionais e estaduais;
  • 3.000 empreendimentos de economia solidária;
  • 500 entidades de assessoria;
  • 12 governos estaduais;
  • 200 municípios pela Rede de Gestores em Economia Solidária.

Na imagem abaixo, podemos entender melhor a organização do Fórum Brasileiro de Economia Solidária e quais são as ações competentes a cada setor.

Quando surge a economia solidária?

mãos unidas para ilustrar a conomia solidáriaA economia solidária tem como princípio a cooperação entre trabalhadores.

A economia solidária surgiu na Primeira Revolução Industrial, como forma de protesto dos artesãos, que acabavam de perder seus trabalhos para a máquina a vapor. 

Então, na entrada do século XIX, muitos sindicatos e cooperativas surgem na Grã Bretanha, consolidando a economia solidária no país. A partir de então, o conceito começou a ser cada vez mais popular na Europa e depois por todo o mundo.

No Brasil, a economia solidária teve início a partir da década de 1980 também como uma alternativa para os trabalhadores que estavam fora do mercado. Institui-se com a força de igrejas, universidades, sindicatos e movimentos sociais. 

Qual é o objetivo da economia solidária?

De uma forma geral, o objetivo da economia solidária é incentivar o desenvolvimento da sociedade como um todo, com foco na diminuição da desigualdade econômica e social.

Para que esse objetivo seja alcançado, as cooperativas, associações e fóruns organizam e incentivam a gestão compartilhada dos meios de produção e a divisão justa dos resultados das atividades. 

Para especificarmos ainda mais, os principais propósitos da economia solidária são: melhorar as condições de vida das pessoas, incentivar uma nova cultura de diversidade e inclusão e enfraquecer a busca pelo lucro a todo custo. 

Quais são as principais características da economia solidária?

Para que os objetivos que apresentamos acima sejam alcançados de maneira bem sucedida, as principais características da economia solidária são pautadas na igualdade, na inclusão e na diversidade

Por isso, os atributos básicos que regem as entidades ligadas à economia solidária são, principalmente: 

  • ação econômica ativa: promover movimentos de incentivo econômico como produção, comercialização, prestação de serviço, trocas, crédito, finanças, consumo e uso coletivo.
  • gestão coletiva: os empreendimentos devem ter autonomia e liberdade para se auto gerirem e tomarem decisões de forma coletiva entre seus integrantes.
  • cooperação e colaboração: trabalhar de forma cooperativa e colaborativa, trocando conhecimentos e experiências que caminhem em direção a interesses e objetivos em comum.
  • solidariedade: distribuir o resultado de forma justa, focando no bem-estar de todos os envolvidos, além de manter e incentivar o envolvimento de todos nas relações com a comunidade e na atuação em movimentos sociais e populares.

Qual é a relação entre economia solidária e tecnologia?

blocos unidos para ilustrar a colaboração existente na economia solidáriaA transformação digital pode ser utilizada como engrenagem para impulsionar a economia solidária.

A tecnologia tem possibilitado e potencializado muito a criação e a prática de diversas ideias inovadoras. Dentre essas ideias, soluções baseadas na economia solidária também saem do papel no intuito de incentivar o desenvolvimento de modelos econômicos mais justos e sustentáveis

Os recursos tecnológicos podem contribuir para questões importantes na economia solidária, como a divulgação e a viabilização de estudos específicos e gratuitos para os integrantes das entidades solidárias.

É importante ressaltar, aqui, que a relevância da divulgação do trabalho dessas comunidades não é no sentido de publicidade ou marketing, mas sim para promover os conceitos de consumo consciente e desenvolvimento sustentável.  

A possível participação de novos integrantes que essa divulgação pode gerar com certeza também é interessante, mas sempre no sentido da ampliação dos projetos, para que eles atinjam mais pessoas. 

A viabilização em relação ao incentivo e ao aprimoramento da educação dos integrantes também é de extrema importância. Na internet é possível encontrar diversos cursos gratuitos, por exemplo, que podem fazer a diferença no resultado da produção dessas entidades.

Exemplos de economia solidária no Brasil

Não é novidade para ninguém que o brasileiro é criativo, não é mesmo? Na economia solidária não é diferente! Confira 3 exemplos incríveis e muito diferentes um do outro — o que prova o quanto a economia solidária pode ser diversa e inclusiva.

BlaBlaCar

O BlaBlaCar é um aplicativo de transporte e carona focado em melhorar os diversos problemas de mobilidade urbana que temos nas grandes cidades do país. Oferece a opção de compartilhar veículos para diminuir o custo de viagens e reduzir a imensa quantidade de poluição produzida pelo excesso de carros nas ruas.

Kombosa Seletiva

A Kombosa Seletiva é uma cooperativa de coleta seletiva e reciclagem nos centros urbanos. Criada pelo então catador Sergio Bispo, tem como objetivo fazer a gestão do lixo coletado, como ele mesmo diz. 

Vale a pena conferir a definição da Kombosa Seletiva pelas palavras do próprio Sergio, veja:

"A Kombosa Seletiva é uma marca. É um jeito de atrair clientes e organizar a coleta do material reciclável. Com o tempo, foi necessário organizar, criar um procedimento para ganhar escala na coleta. Houve a troca da carroça de madeira pela Kombi, organizei uma agenda com horários para coletar os materiais, e passei a tratar os produtores de lixo como clientes.

Faço uma gestão do lixo. Explico o caminho que aquele material tomará, mostro que não vai ser jogado em aterros e, no final do mês, envio uma planilha para eles, mostrando quantos quilos eles conseguiram retirar da cadeia produtiva do lixo com este serviço. Tento ensinar para os outros catadores que eles podem ser mais eficientes e ganharem mais dinheiro trabalhando dessa maneira".  

Banco Palmas

O Banco Palmas nasceu em Fortaleza, no Ceará, para auxiliar os moradores de uma comunidade carente. Oferece serviços solidários, associativos e comunitários, voltados a geração de trabalho e renda para as comunidades locais.

O principal objetivo do banco é promover o desenvolvimento de áreas com baixa renda com a criação de redes locais de produção e consumo. Auxilia essas iniciativas em todos os seus processos financeiros, sempre girando em torno da própria comunidade.

E então, como foi conhecer essa economia tão diferente? Se tiver dúvidas, deixe seu comentário! Vamos, juntos, discutir ainda mais sobre esse tema tão necessário nos dias atuais

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